TERAPIA FEITA COM FILÓSOFOS
TERAPIA FEITA COM FILÓSOFOS
Para quem não se adapta ou não quer passar por tratamentos de terapia convencionais, a opção, que tem ganhado força, é a filosofia clínica.
Atendimento
Entenda como se iniciam as sessões.
Na primeira sessão, o filósofo pergunta ao partilhante o que o levou à terapia. Com isso, identifica a queixa inicial e pede para que a pessoa conte sua história de vida. “Neste momento, a preocupação é fazer somente agendamentos necessários e interferir o mínimo possível no relato para que a pessoa não se desvie de sua maneira de se expressar”, explica o filósofo clínico Everson Nauroski. Esse processo pode demorar uma ou várias sessões, dependendo do grau de síntese da pessoa.
A partir do relato, o filósofo compreende a origem do mal-estar e identifica características do partilhante, como sua visão de mundo e seus valores. “Então, passamos a trabalhar nas sessões no sentido de incentivar a pessoa a se conhecer e a refletir sobre o que a incomoda.”
Mitos e verdades
Tire algumas dúvidas sobre a terapia feita por filósofos.
Medicação
É mentira que o filósofo clínico prescreve medicação. Isso porque, nenhum profissional dessa área tem autorização legal para receitar ou dispensar um paciente do uso de medicamentos. Por isso, o acompanhamento de um filósofo clínico não dispensa que o partilhante procure um médico e mantenha o tratamento prescrito por esse profissional.
Crianças
O público infantil também pode ser atendido por um filósofo clínico. Nesse caso, os filósofos trabalham com outros recursos para incentivar as crianças a se expressar, como desenhos ou massinhas de modelar, e complementam a sessão com um trabalho feito em conjunto com os pais ou responsáveis.
Conhecimento
Não é preciso conhecer as obras de vários filósofos para marcar uma terapia. A eficiência das sessões não depende de conhecer a Filosofia profundamente e, em geral, os profissionais sequer citam os filósofos durante as conversas.
Indicações
É errado pensar que a Filosofia Clínica é somente indicada para quem tem problemas de saúde. O acompanhamento de um filósofo clínico pode, por exemplo, ajudar adolescentes que querem decidir a profissão ou pessoas que se interessam em conhecer a si mesmas.
Esqueça o divã convencional. Criado há 15 anos no Brasil, o método conhecido como filosofia clínica usa ensinamentos filosóficos para ajudar a resolver angústias, medos e problemas pessoais. Os adeptos dessa técnica defendem que a terapia seja uma forma de autoconhecimento para que as pessoas encontrem dentro de si mesmas respostas para os males que as afligem.
O resultado é um tratamento cujos atendimentos semanais saem dos consultórios e podem ser feitos em qualquer lugar, conquistando aqueles que não se adaptam ou não querem recorrer às terapias convencionais. "O intuito é que a pessoa tenha liberdade para se expressar. Então, se percebo que ela se sente mais confortável conversando comigo em uma praça ou parque, por que não realizar a sessão ali? Isso torna o encontro mais produtivo", explica o filósofo clínico Darcy Nichetti. Segundo ele, cada sessão dura em média uma hora e quem procura atendimento é chamado de partilhante. "Não usamos a palavra paciente porque, para nós, essa pessoa não está doente, mas em busca de ajuda para se descobrir e recuperar sua qualidade de vida."
Os encontros são sempre gravados, mas os profissionais devem seguir à risca o código de ética da profissão, mantendo em sigilo tudo o que é falado. Segundo o filósofo clínico e professor das Faculdades Santa Cruz Everson Nauroski, a gravação é importante porque facilita o filósofo a recordar e entender o que foi dito em cada sessão. "Não podemos interpretar as informações. Se a pessoa afirma que sente um aperto no peito, não posso deduzir que está angustiada, então peço que fale mais sobre isso e, a partir dessa explicação, ela própria clareia suas ideias e percebe o que realmente a aflige."
Para o filósofo clínico e professor da pós-graduação do Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba (Itecne) Ivo José Triches, é justamente pelo fato de o profissional interferir o mínimo possível nos relatos dos partilhantes que as sessões dão certo. "Não julgamos a pessoa, nem damos conselhos sobre o que fazer. O intuito é escutar e, posteriormente, ajudar a pessoa a ser responsável pela resolução das questões que a incomodam." Por isso, quem determina o fim do tratamento é o próprio partilhante, em acordo com o filósofo clínico. "Verificamos se a questão inicial que o preocupava foi resolvida e, caso a conclusão seja positiva, encerramos as sessões", explica Nauroski.
Indicação
Segundo os especialistas, qualquer pessoa pode recorrer à filosofia clínica. As indicações são amplas e vão desde quem passa por uma crise ou tem dificuldade em lidar com perdas até quem apresenta problemas somáticos derivados de questões mal resolvidas.
No caso de o filósofo ter identificado algum tipo de alteração de comportamento no partilhante, ele entra em contato com a família e sugere que outros profissionais também façam o acompanhamento. "Um paciente que tem esquizofrenia, por exemplo, pode ter atendimento com um filósofo clínico, mas em conjunto com um médico neurologista e um psiquiatra", explica Nichetti.
Segundo Nauroski, mesmo que o partilhante não tenha um diagnóstico prévio de problemas psiquiátricos, o filósofo clínico tem algumas estratégias para identificar possíveis alterações. "Prestamos atenção na estrutura do raciocínio da pessoa. Se ela tem dificuldade de foco, faz saltos lógicos e mistura temas e datas, notamos que ali pode haver uma perturbação séria que mereça acompanhamento médico."
Superadas as críticas de outras áreas
Recentemente, a prática da Filosofia Clínica vem rendendo uma série de críticas entre os profissionais de outras áreas que oferecem opções de terapia. Porém, segundo o filósofo clínico Everson Nauroski, isto está cada vez mais superado. "Nos primeiros anos de aplicação, soubemos de muita resistência de outras áreas, mas agora o diálogo tem sido mais ameno e conseguimos interagir de maneira mais proveitosa", explica.
O outro lado
O psicólogo e conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Henrique Rodrigues concorda com um discurso mais conciliador. "A Psicologia é formada por várias abordagens. Às vezes, as pessoas não se encaixam no tratamento de um terapeuta, em um tipo de terapia ou não se satisfazem com as respostas que obtém com esse trabalho, então podem procurar alternativas que considerem melhores para si."
Fonte:https://www.gazetadopovo.com.br
Pesquisa: Rosmary Machado – Filósofa Clínica.