CARÊNCIA AFETIVA E NECESSIDADE DE AUTO-AFIRMAÇÃO NAS REDES SOCIAIS
Vivemos em uma época em que a maioria dos internautas se classifica nas gerações y e z. São jovens adultos e adolescentes que nos trouxeram mudanças comportamentais a partir de novos paradigmas tecnológicos relacionais, e que as gerações anteriores de certa forma foram compelidas a se atualizar.
Com a democratização do acesso a internet e redes sociais, foram internalizados novos aspectos comportamentais e agregados novos valores sociais. Presenciamos as transformações sociais reconfigurando o processo de subjetivação das novas maneiras de se relacionar com o mundo e com o outro.
No entanto, junto às conexões, fotos, selfies e check-ins, podemos concluir que as redes sociais foi o propulsor importante para denunciar a nossa fragilidade egoica. Necessitamos incessantemente da aprovação do outro através dos likes e comentários que elevam a nossa autoestima. Necessitamos da validação, da aprovação do outro, em busca de convencermo-nos daquilo que não temos certeza em nós mesmos.
Esse olhar perscrutador, avaliador e validativo do outro acerca dos nossos estados emocionais, do nosso sucesso e bem estar nos leva à conclusão de que nós não estamos convencidos internamente daquilo que somos e do que sentimos. Existe uma fragilidade em tudo isto e não foi a internet que desenvolveu. Na realidade estas questões já existiam; a internet foi apenas a ferramenta eliciadora para a eclosão dos conteúdos que presenciamos dia a dia nas redes sociais.
Somos seres gregários e nos realizamos nos relacionamentos interpessoais que nos validam através do olhar do outro e isto além de legitimo, é necessário. No entanto, o que percebo nas redes sociais é uma necessidade premente e constante de auto-afirmarão, onde se percebe o movimento de convencer o outro do que ainda não
estamos convencidos em nós mesmos. Em outras palavras, as redes sociais é o grande termômetro da insatisfação e insegurança das pessoas consigo mesmas.
Isto é comprovado pelo simples raciocínio de que se não conseguimos nos satisfazer em um nível mais profundo, necessariamente precisamos buscar isto fora.
E' fato que não somos e nunca fomos e nem seremos auto-suficientes, portanto, não podemos satisfazer sozinhos as nossas próprias necessidades e carências. Precisamos do outro, é do humano. Mas na internet existe uma caricaturização, uma exacerbação do nosso narcisismo.
Sendo assim, as redes sociais "caiu como uma luva" para a insatisfação humana e pra necessidade fundamental do olhar de aprovação do outro enquanto sujeito que necessita ser valorado e reconhecido, causando um aprisionamento desta necessidade constante de criar muitas vezes uma personalidade fictícia, uma realidade muitas vezes mascarada para satisfazermos as nossas fantasias e necessidades profundas.
Até que ponto acreditamos nesta realidade da felicidade constante, dos amores de contos de fadas, em uma vida sem problemas?
Afugentamos-nos nas redes sociais para criarmos esta possibilidade. Criamos muitas vezes uma realidade pré-fabricada a partir das nossas carências afetivas e emocionais. Vivemos o que gostaríamos de viver na realidade e isto agora foi possibilitado pela socialização da internet.
...Mas... até que ponto podemos nos satisfazer nos reinventando muitas vezes na irrealidade?
Publicado em sociedade por Soraya Rodrigues de Aragão
http://obviousmag.org/transmutacao_psicologica_do_ser_e_alquimia_da_vida
Pesquisa: Dirceu Kommers